22/08/16

"Teoria Geral do Esquecimento" - José Eduardo Agualusa

Teoria Geral do Esquecimento
My rating: 4 of 5 stars

A ação principal gira em torno de Ludo – uma portuguesa que foi morar para Luanda com a irmã, que se casou com um viúvo angolano. Com a revolução, irmã e cunhado voltam para Portugal, mas ela fica sozinha, em Angola. Apavorada por um assalto mal sucedido e para evitar uma possível ocupação do apartamento onde vive, constrói um muro na porta, determinada a não sair nunca mais. O seu auto-isolamento irá durar quase trinta anos.

A forma como as estórias das várias personagem se cruzam e entrelaçam agradou-me bastante. Há vários outros personagens e estórias (ações secundárias) no livro que são, aparentemente, díspares, mas que vão se conectando à estória de Ludo com uma exatidão incrível!

Este romance é tecido, pelas hábeis mãos do autor, numa mistura de imaginação, vida real e vida coletiva de Angola, desde a independência até aos dias de hoje. Agualusa revela qualidades inegáveis como romancista. Como o próprio diz: “um homem com uma boa história é quase um rei.”

Por outro lado, este é um livro que fala sobre memória e esquecimento, sobre pessoas que foram esquecidas e outras que desejam arduamente serem esquecidas, e ainda da reconstrução de si mesmo - enquanto pessoa ou país. No fundo, não importa quem são os bons e os maus, quem vai ou não para o inferno ou para o paraíso, no final, são todas pessoas...

Ludo também me parece uma excelente metáfora para uma África que, por muito tempo, ficou presa atrás de uma parede imaginária de guerras do lado de lá e olhos fechados e indiferença do lado de cá.

A escrita de José Eduardo Agualusa não é poética, mas enlaça-nos com suavidade e acabamos por nos entregar às suas palavras com puro deleite, porque é o que recebemos dela. Ganha-se pela beleza da narrativa, pela escolha inusitada das palavras e das metáforas.

Tive sempre uma sensação positiva ao longo de todo o livro, apesar dos muitos relatos de vidas menos felizes. Deve ser um dom - é um dom - escrever cada linha e sair uma surpresa, imaginar uma estória e chegar a quem lê, arrancando um sorriso das situações mais inesperadas e por vezes de verdadeira miséria. Tratar os conflitos com alguma ironia, descrever a situação política sem os dramas do costume, resumir tudo às pessoas, à vida, ao sol que vai voltar sempre a nascer. Esperança, felicidade nas pequenas coisas, valores positivos que se revelam no meio do ódio, das guerras, dos crimes.

“Não foi para isso que fizemos a Independência. Não para que os angolanos se matassem uns aos outros como cães raivosos.” (p.152)


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