28/11/08

O Frio do Inverno e a Frieza Burocrática da Avaliação dos Professores

o tempo passa e novembro começa a chegar ao fim. com ele veio o frio e a chuva, que nos esfriam o corpo. mas se o esfriamento do corpo é desnecessário, o mesmo não se pode dizer do resfriar do espírito. é que, de vez em quando é necessário esfriar a cabeça, pôr alguma água fria na fervura dos momentos...
vem isto a propósito do clima quente que se vive entre os professores, tanto na minha escola como, presumo, em muitas outras. de repente ficámos a saber que vamos ser avaliados, que vão «bisbilhotar os nossos papéis», as nossas planificações e, o mais aflitivo (para alguns), as nossas aulas! que sacrilégio!! é como se voltássemos aos tempos de estágio!, ouvi alguém dizer. e é verdade. este «querer ver» o nosso trabalho com tanto pormenor faz-me lembrar os tempos idos de quando tive de provar, a meia dúzia de "doutas" professoras, que eu era capaz de ensinar com alguma competência (pelo menos!). a partir daí, depois de ter provado a essas senhoras que era capaz de o fazer, nunca mais ninguém inspeccionou o meu trabalho. mas agora, sem que algo o fizesse prever, os professores vão ter de novo de provar que (ainda) são capazes de leccionar com qualidade, seja lá o que isso for.
de qualquer modo, eu sou contra esta avalição. não está aqui em causa a avaliação em si, que, até certo ponto, é algo positivo, se for entendida no sentido de ver o que está menos bem para se poder melhorar, sem que haja nisso qualquer perspectiva negativa de punição. afinal, todos nós já tivemos o nosso estágio...
não, não está aqui em causa o ser avaliado, o que está em causa é o COMO vou (vamos) ser avaliados. são tantas, tantas, tantas, mas mesmo tantas as confusões, as injustiças, as coisas más que esta avaliação contém que não é de estranhar que 120 mil professores tenham vindo para a rua manifestar a sua indignação. antes de mais, o exemplo dever vir de cima e se os nossos governantes querem ter funcionários públicos competentes, têm, em primeiro lugar, de ser eles próprios competentes. ou pelo menos que não sejam incompetentes, como alguns deles teimam em não deixar de ser!!!!
precisamos de nos entender. precisamos de gente com carisma. precisamos de exemplos...

09/11/08

palavras do fim e do princípio

terminar, acabar, começar, iniciar, princípio, fim, novo, final, início... terminus est
há palavras que usamos sobretudo em finais. há palavras que usamos em inícios.
por vezes não tenho as palavras certas que expressem a vontade titânica de acabar com alguma coisa, ou em começar algo novo. também me acontece não ter palavras que expressem a desilusão que sinto por acabar, ou por ter de acabar, ou a excitação de querer começar, de estar a iniciar uma nova etapa, com todos os sonhos a ela associados.
é difícil encontrar uma só palavra que contenha o significado e o sentido profundos dessa desilusão pré-final. mas há muitas que designam o onírico frenesim de um novo início. como é difícil, não surge aqui, embora deseje ardentemente o fim disto, deste estado em que sou.
a outra, a do início, também não a escrevo. não é que não exista. é que para haver um principio tem de ante-haver um fim, e esse fim ainda não se deu.
como eu quero o fim...

06/11/08

as palavras

as palavras são como nós, têm corpo e alma.
têm um esqueleto: as letras
têm uma alma: o seu significado


as palavras estão na nossa mente, na nossa boca, nas nossas mãos. vão connosco para todo o lado, estão sempre em nós. 
são elas que nos permitem sair de nós e ir ao encontro dos outros.
há palavras doces e palavras amargas.


são nossas amigas.
as palavras enchem-nos a cabeça e matam-nos a fome do saber. 
deleitam-nos o espírito.

há palavras que são flores e, juntas, formam poemas-jardins.
há palavras para inícios e palavras para finais
há palavras luminosas e palavras escuras.
há palavras de verão e palavras de inverno.
palavras do sol e palavras da lua.
palavras de solstícios, num SOLSTÍCIO DE PALAVRAS!




o carinho das palavras
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

                    Alexandre O'Neill