19/08/16

"O Deserto dos Tártaros" - Dino Buzzati

O Deserto dos Tártaros My rating: 5 of 5 stars

Giovanni Drogo, protagonista da obra, é um jovem tenente destacado para a fortaleza Bastiani, na fronteira do deserto de um país que não sabemos ao certo qual é. Drogo espera cumprir aí as suas obrigações militares durante quatro meses e depois ser transferido para a cidade.
Na fortaleza, soldados e oficiais vivem à espera de um possível ataque dos Tártaros, embora haja quem acredite que tudo seja apenas lenda e que tais habitantes não existem. O que importa é que eles são uma possibilidade. É preciso que existam para a dar sentido à vida daqueles homens. É a esperança que mantém Giovanni preso àquele lugar, enquanto sonha com a invasão dos Tártaros e com a hipótese de fazer algo grandioso, ainda que possa morrer na batalha.

Drogo permanece no forte por mais de trinta anos, sem que nada de excecional aconteça. No final, acaba por adoecer e é então que, do deserto, surge finalmente o tão esperado e desejado ataque à fortaleza, embora o leitor não chegue a saber se são realmente os Tártaros ou outro povo invasor, porque o protagonista, contra a sua vontade, é mandado de volta para a cidade, a fim de restabelecer a sua saúde. Durante o regresso, aloja-se numa estalagem que encontra no caminho e enfrenta a morte próximo à janela do quarto, enquanto olha as estrelas. Assim termina o romance.

A imensidão do deserto e a vida rotineira da fortaleza acabam por contaminar o tenente Drogo, que acabará a sua vida sem nada ter realizado, “prisioneiro da própria ilusão”. O espaço harmoniza-se com o personagem: o deserto e a fortaleza tornam-se a metáfora da solidão do tenente, sempre mais voltado à contemplação que à ação.
A vida inteira de G. Drogo é marcada pela solidão: ele está sempre só, não tem amigos e parece viver “fechado em si mesmo num mundo onde as comunicações foram cortadas”, na esperança vã de se tornar um herói, caso a invasão dos Tártaros realmente viesse a ocorrer. No fundo, sente a necessidade humana de dar sentido à vida e o desejo de imortalidade através da glória (militar, neste caso).

Este é também um romance sobre o Tempo e o que com ele fazemos (ou não!) durante a nossa existência. Durante a leitura, embrei-me várias vezes do “carpe diem” horaciano. A vida é breve, há que aproveitá-la!

“(…) mesmo após o final da leitura, não se consegue evitar aquele vazio, um vazio incerto, uma pontada na alma ressoando silêncios, uma certeza de que não estamos completos.”

há livros que são lições de vida

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