26/10/16

O Buda dos Subúrbios - Hanif Kureishi

O Buda dos Subúrbios
My rating: 5 of 5 stars

O herói do primeiro romance de Hanif Kureishi é Karim, um adolescente-jovem-adulto sonhador, desesperado por abandonar os subúrbios do sul de Londres e experimentar os frutos proibidos que a época de finais de 1970 tinha para oferecer em Inglaterra (o fim dos hippies, o aparecimento do punk e da new wave, a liberdade da experimentação de estilos de vida alternativos - em termos sexuais e sociais...). É a estória do seu percurso desde os subúrbios de Londres (o anonimato) até ao centro da cidade, em paralelo com uma ascensão social e, sobretudo, cultural (torna-se num conhecido ator de teatro, chegando a representar em Nova Iorque).

Não me vou pôr a spoilar em demasia. Prefiro, antes, referir o quanto me agradou a leitura deste romance.
É o 4º livro que leio de H. Kureishi (pai paquistanês e mãe inglesa - tal como a personagem principal que é tb o narrador). Este foi, no entanto, o que mais gozo me deu a ler. Quero mais!

Algumas opiniões alheias sobre esta obra (com as quais concordo em pleno, porque a definem bem):
. «Altamente irreverente, mas também genuinamente emocionante e verdadeiro. E muito, muito divertido.» (Salman Rushdie)
. «Um romance maravilhoso. Duvido que vá ler um com mais humor, ou com mais coração, este ano, ou mesmo possivelmente nesta década.» (Angela Carter, Guardian)
. «Um romance perversamente divertido.» (New York Times)
. «Genialmente divertido. Um romance revigorante, anárquico e deliciosamente livre.» (Sunday Times)
.«Uma voz distinta e talentosa — jovial, inteligente, viva e pungente.» (Hermione Lee, Independent)
(retirado da contracapa)

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16/10/16

Shifted - For Closure [2016]

música do dia:




"Uma Dor Tão Desigual" - coletânea de contos


Uma Dor Tão Desigual (contos)
My rating: 4 of 5 stars

Li um conto por dia.

Gostei do conceito: livro que resulta de um desafio feito a vários autores portugueses para que explorassem as fronteiras que definem a saúde mental e o que dela nos afasta.

Gostei do resultado: em estilos muito diferentes, oito escritores brindam-nos com textos que mostram como qualquer um de nós pode viver momentos difíceis, com consequentes dores psicológicas. Uma coletânea de estórias de perda, solidão, fraqueza e delírio, mas também de esperança e humanidade. São relatos de gente que podíamos conhecer e talvez conheçamos…

1. Síndrome de Diógenes - Afonso Cruz (3*)
A estória de Abdul-Rahman, que “recolhia das ruas tudo o que era objeto sem interesse, sem propósito, aquilo a que chamamos lixo…”, inventando depois estórias para cada um dos objetos recolhidos. Pelo meio, algumas reflexões filosóficas e alusões a obras literárias.
Não gostei tanto da escrita como da dos magníficos “Para onde vão os guarda-chuvas” ou “Vamos comprar um poeta”.

2. A Outra Metade - Dulce Maria Cardoso (4*)
A narradora conta-nos a estória do seu amigo, apaixonado por Luís, um obeso que conseguiu reduzir o seu peso para metade, mas que era “pago para se exibir na Internet em sites gay”, embora tivesse “um casamento feliz”.
Não conhecia a autora. A sua escrita foi uma agradável descoberta.

3. Josef - Goncaço M. Tavares (4*)
A estória de Josef, o esquizofrénico, contada numa escrita surrealista que tão bem espelha a confusão/agitação/não-linearidade do espaço interior da personagem.
Gostei da escrita de G.M.Tavares neste conto. O mesmo não posso dizer de “Uma menina está perdida neste século à procura do seu pai”, o único livro que li dele. Há qualquer coisa de kafkiano na escrita deste autor (digo eu…)

4. Jaca - Joel Neto (5*)
A estória de Rui e dos seus “desentendimentos” familiares, num jantar de Natal.
Primeiro contacto com a escrita de Joel Neto. Uma agradável (agradabilíssima) surpresa. Gostei do ritmo da narrativa, da sensibilidade do narrador e da prosa poética qb.
Aqui no GR não falta quem apregoe o quão bons são os seus livros. Depois deste conto, vou, certamente, querer ler outros textos deste autor.

5. Chameada de Pássaros - Maria Teresa Horta (3*)
70 % prosa poética + 30 % de poesia narrativa.
A estória de Marta, que engravidou sem saber ao certo se foi, de facto, para a cama com o pai da criança ou se imaginou essa ida (terá sido com um Anjo?). A depressão profunda e douradoura de que sofre fá-la desinteressar-se pela filha, Cassandra, a criança que tudo faz para ser amada pela mãe e que, no final, se transforma num bando de pássaros (pelo menos é assim que a veem os alucinados olhos maternos…)
Gostei da irreverência formal do texto. Não gostei do estilo: demasiado poético! (Reconheço, no entanto, mérito e competência literária à autora).

6. Jogo Honesto - Nuno Camarneiro (5*)
A estória de um homem que, aos 39 anos, viu terminado o seu casamento - a mulher deixou-o, abruptamente, sem que nada o fizesse prever. Cai numa profunda depressão e, como trabalha num laboratório, consegue desenvolver uma técnica para produzir um comprimido de cianeto igualzinho aos da aspirina. Acaba por suicidar-se.
Outra agradável surpresa. Não tinha lido nada deste autor. Quero conhecer melhor a sua obra.

7. Da Impossibilidade de ser livre - Patrícia Reis (4*)
A estória de uma mulher que se sente terrivelmente perdida, depois de ter sido abandonada pelo marido. Ao fim de 25 anos de casamento, não consegue adaptar-se à sua nova “vida”, sem o marido e com dois filhos adolescentes. No final, ele regressa a casa, depois de uma ausência de quase quatro meses. O texto é a narração, na primeira pessoa, da conversa com a psicóloga, nas quatro consultas que teve durante o tempo em que o marido esteve fora de casa.
Não conhecia a autora. Nunca lera nada dela. Gostei do estilo da sua prosa.

8. Ela só tinha uma oportunidade - Richard Zimler (4*)
O conto mais comprido desta coletânea é o do escritor norte-americano naturalizado português R. Zimler. Narra a estória de Benni, que, com 75 anos e depois da morte da esposa, se fecha em casa para não ter de se relacionar com ninguém (agorafobia? depressão?) O narrador - o seu filho - acaba por nos revelar como foi a vida do seu pai nos guetos de Varsóvia, durante a ocupação Nazi da Polónia.
A prosa é simples e agradável. A leitura é fácil. (Mais) um autor a conhecer melhor.

Conclusão: é tãooo bom descobrir novos autores e ficar com vontade de os conhecer melhor! :)

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