11/11/11

Escreve-se «com letras»!

Ontem, em conversa informal com um ex-aluno meu sobre o seu desinteresse pela escola, fiquei a saber de uma coisa que me deixou imensamente apreensivo. Contou-me ele que, na aula de uma disciplina do meu departamento, a certa altura perguntou à professora como se escrevia uma determinada palavra, ao que ela, em jeito de «resmungona» (palavra dele) respondeu:
- «com letras!»
Retorqui:
- Ó João (nome fictício), talvez tenhas percebido mal. Ou talvez a professora estivesse chateada contigo por tu estares a fazer barulho (o que seria perfeitamente normal no aluno em questão).
Ao que ele respondeu:
- Ó stor, eu nunca falei mal à profe. Ela não tinha nada que me responder assim! Que mal é que eu lhe fiz? Eu até estava interessado na aula... até lhe perguntei como se escrevia uma palavra! Se eu soubesse não lhe perguntava, não acha? Se estou na conversa, é porque estou desinteressado. Se pergunto uma coisa, responde-me mal! Ora porra! É proibido perguntar?
- Vais ver que não é nada disso! Tu é que deves ter percebido mal!

E pronto, a coisa passou. Mas aquele "escreve-se «com letras»" não me saiu da cabeça! Como é que é possível uma professora responder aquilo, daquela maneira? Será que estava enervada devido ao comportamento dos alunos? Só pode ter sido isso...
Devo acrescentar que esta turma é realmente difícil! Não é que sejam alunos mal comportados. A questão não é essa. O problema é que são alunos que não sabem literalmente nada e, mais grave do que isso, não querem saber de nada! Todos os docentes se queixam da «passividade» intelectual destes alunos... Ora, mais uma razão para a professora ter outro tipo de reação! Em alunos que não se interessam por coisa nenhuma, querer saber como se escreve uma palavra é um sinal de esperança! Mais um motivo para ela responder adequadamente ao aluno e, porque não, fazer daquela pergunta um exemplo a seguir: um exemplo de interesse, de curiosidade, do querer saber, que é precisamente o que os alunos dessa turma não têm! 
A primeira aparição de curiosidade foi aniquilada com duas palavras! Bastou uma simples resposta, certamente irrefletida, da professora para matar à nascença aquilo que poderia ser o primeiro sinal de interesse e desejo de saber num aluno, melhor, numa turma, onde isso não existe! ... um tesouro desperdiçado!

Mas agora, pergunto eu: uma pessoa que mata a curiosidade daqueles que querem aprender, o que está a fazer numa escola?
Talvez se tenha enganado na porta... ou então sou eu, que hoje acordei mal humorado e não estou a ver a coisa bem vista!



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