Ontem, em conversa informal com um ex-aluno meu sobre o seu desinteresse pela escola, fiquei a saber de uma coisa que me deixou imensamente apreensivo. Contou-me ele que, na aula de uma disciplina do meu departamento, a certa altura perguntou à professora como se escrevia uma determinada palavra, ao que ela, em jeito de «resmungona» (palavra dele) respondeu:
- «com letras!»
- «com letras!»
Retorqui:
- Ó João (nome fictício), talvez tenhas percebido mal. Ou talvez a professora estivesse chateada contigo por tu estares a fazer barulho (o que seria perfeitamente normal no aluno em questão).
Ao que ele respondeu:
- Ó stor, eu nunca falei mal à profe. Ela não tinha nada que me responder assim! Que mal é que eu lhe fiz? Eu até estava interessado na aula... até lhe perguntei como se escrevia uma palavra! Se eu soubesse não lhe perguntava, não acha? Se estou na conversa, é porque estou desinteressado. Se pergunto uma coisa, responde-me mal! Ora porra! É proibido perguntar?
- Vais ver que não é nada disso! Tu é que deves ter percebido mal!
E pronto, a coisa passou. Mas aquele "escreve-se «com letras»" não me saiu da cabeça! Como é que é possível uma professora responder aquilo, daquela maneira? Será que estava enervada devido ao comportamento dos alunos? Só pode ter sido isso...

A primeira aparição de curiosidade foi aniquilada com duas palavras! Bastou uma simples resposta, certamente irrefletida, da professora para matar à nascença aquilo que poderia ser o primeiro sinal de interesse e desejo de saber num aluno, melhor, numa turma, onde isso não existe! ... um tesouro desperdiçado!
Mas agora, pergunto eu: uma pessoa que mata a curiosidade daqueles que querem aprender, o que está a fazer numa escola?
Talvez se tenha enganado na porta... ou então sou eu, que hoje acordei mal humorado e não estou a ver a coisa bem vista!
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