22/12/11

Como surge em nós a capacidade para o mal?



Seja a mudança que você quer no mundo (Gandhi)

Como surge em nós a nossa capacidade para o mal, a sordidez, a humilhação do outro? A tendência para a destruição, não para a criação. Para a mediocridade confortável, não para a audácia ou fervor potencialmente produtivos. Para a violência demente, não para a conciliação e para a humanidade. Para a morte, não para a vida.

Que lado nosso é este, feliz diante da desgraça alheia? Quem é esse em nós, que ri quando o outro cai? Quem é esse que aguarda a gafe alheia para se divertir?
O que é esta coisa em nós, que dá mais ouvidos ao comentário maligno do que ao elogio, que sofre com o sucesso alheio e corre para cortar a cabeça de qualquer um, sobretudo próximo, que se destacar um pouco que seja da mediocridade geral?
Quem é essa criatura em nós que não tem partido nem conhece lealdade, que ri dos honrados, debocha dos fiéis, mente e inventa para manchar a honra de alguém que está trabalhando para o bem?
Desgostamos tanto do outro que não lhe admitimos a alegria, algum tipo de sucesso ou reconhecimento? Detestamos o bem do outro. Exultamos quando conseguimos despertar sobre alguém suspeitas e desconfianças, lançar alguma calúnia ou requentar algumas que já estavam esquecidas; mas como pode o outro dar-se bem, ver o seu trabalho reconhecido, ter admiração e algum aplauso, quando nos refocilamos na nossa nulidade? A sordidez e a morte cochilam em nós, e nem todos conseguem domesticar isso.

Ninguém me diga que um caluniador é um bom pai, um filho amoroso, um profissional honesto, e que apenas exala o seu veneno mortal porque busca a verdade. Ninguém me diga que somos bonzinhos, que é só por acaso que lançamos o tiro fatal, feito de aço ou expresso em palavras.
Quando alguém se destaca de entre os seus pares, o vírus da inveja eclode. Muitos construíram um deus à sua imagem e semelhança, no teatro da sua mente, para excluir os seus pares, silenciar vozes, arruinar vidas. Um deus da dimensão do seu egoísmo, do tamanho das suas verdades dogmáticas.

O individualismo representa viver “para si”, explorar a sociedade sem dar quase nada em troca. A individualidade representa viver “em si”, preservar a identidade, a consciência sobre si mesmo e sobre o mundo exterior. O individualismo dilacera, a individualidade mantém a sua unidade.

É possível encontrar humildade num milionário e arrogância num miserável maltrapilho. Os humildes abraçam os diferentes, os infetados com a soberba colocam-se acima dos outros.


1 comentário:

Visão Futebolística disse...

Adorei o artigo. Concordo com a dicotomia Individualismo/ Individualidade, em absoluto.
Dulce Paixão